Se o General Marimbondo, de apelido o Malandro e de cognome o Exonerador teve mérito algum na sua Operação Resgate, em grande parte deve-o ao encerramento de templos religiosos e desmantelamento de associações religiosas dirigidas por verdadeiras quadrilhas criminosas que a pretexto de pregagem a bíblia e encenarem homilias se auto-intitulavam de religiões, e que, apesar de darem esperança à populaça, exploravam-na impiedosamente como desprezíveis sanguessugas que são.
Por Brandão de Pinho
Antes de prosseguir com o meu texto quero alertar o leitor de que para todos os efeitos sou de uma assentada não crente, agnóstico, ateu e incrédulo, pese embora, todavia, nutra uma simpatia pela Igreja Católica pois reconheço que o cristianismo -em termos genéricos- foi o factor mais determinante no desenvolvimento da cultura, psique e identidade do mundo ocidental cuja matriz judaica-cristã não pode ser sonegada nem dissociada, de forma alguma, a não ser que se pretenda corromper grosseiramente as Ciências Históricas; e que o Catolicismo -de modo particular- é o factor idiossincrático que distingue os países de matriz latina (onde se inclui Angola, Portugal, Cabo Verde e Brasil) dos de matriz bárbara germano-anglo-saxónica.
Nutro de igual modo simpatia pelo Zoroastrismo que verdadeiramente deveria ser a religião oficial da Grande Pérsia e dos povos do útero iraniano e não o adventício e exótico Islão, que ainda para mais, obriga os iranianos a estudar e celebrar a liturgia em língua árabe e não em farsi (como acontecia na Igreja Católica não há assim tão pouco tempo em que as Eucaristias eram celebradas em latim e de costas para os fiéis, e a Bíblia, ao contrário dos protestantes, era impressa em língua latina que por muito belo que seja, como é óbvio, tal não abonava muito em favor das capacidades intelectuais dos nativos neolatinofonos ao ponto de uma teoria afirmara que a Europa Católica do Sul é mais atrasada justamente por esse factor)
Em tempos passados igualmente nutria simpatia pelo Budismo, que agora abomino com todas as minhas forças, pois esta pretensa crença religiosa e filosofia de vida, não é de todo uma religião de bem desde que percebi que o seu machismo militante e cruel era demasiado (não que a Igreja católica não tenha uma grande percurso para fazer ainda nesse capítulo de dar igualdade de oportunidades às nossas mulheres) e sobretudo desde que vi a laureada Aung San Suu Kyi -que é quem governa de facto a Birmânia- a não deixar de escutar com atenção a voz tranquila do monge budista birmanês Ashin Wirathu e verdadeiro guru no Myanmar que enuncia as palavras como um mantra repetido até se embalar a si próprio bem como os outros que o ouvem, de tal forma que só os músculos retesados da sua face redonda e bolachuda deixam trair a violência das cruéis palavras que como um rastilho, vai repetindo, até se tornarem, se não verdade pelo menos ordens subliminares hipnóticas e que rezam mais ou menos assim: “Estamos a tolerar violações em todas as cidades, a ser sexualmente molestados em todo o lado, a ser agredidos por muçulmanos em toda a parte. Em todas os recantos (felizmente resisti à tentação de grafar o vocábulo “rincão” que já se começa a usar) do nosso país são uma maioria bruta e selvagem”.
Os sermões racistas e prenhes de intolerância do influente e infame Wirathu, que descrevem a essa minoria (e não maioria como o monge apregoa) muçulmana de nefasta, foram o preâmbulo da onda de impetuosidade furiosa contra os rohingya, a quem o Estado birmanês retirou a cidadania em 1982. O Budismo, para mim, perdeu toda a aura de religião de paz e tolerância e demonstrou então ser, para além de discriminatório para com as mulheres, profundamente racista, xenófobo e intolerante para com outras confissões. Pelo menos a Igreja de Roma é só machista.
Como já teorizei aqui no Folha 8 e ao contrário do que diz o deputado indígena e tribalista David Mendes, Angola e Portugal são países irmãos que partilham língua, cultura, religião e muita outras coisas que o espaço exíguo que disponho não permite enunciar. Inclusivamente as Constituições da República são similares nomeada e mormente no que toca à laicidade dos estados e à liberdade religiosa.
Todavia, Angola aparece muito mal classificada dentre os países lusófonos justamente no que diz respeito à implementação de facto dessa liberdade religiosa (até porque a Constituição impõe um mínimo de 100 mil assinaturas para a legalização de uma igreja o que é praticamente impossível) havendo queixas de organizações internacionais subordinadas a estas questões -apesar de reconhecerem que em Angola as confissões têm total liberdade para evangelizar, dar catequese e gerir instituições como rádios e publicações escritas- no sentido de que alguns grupos religiosos minoritários se queixam do favoritismo para com a Igreja Católica.
Queixas de discriminação governamental e propaganda negativa são comuns por parte da comunidade muçulmana e já o imã David Já, presidente da Comunidade Islâmica de Angola (COIA) acusa as autoridades de perseguirem o Islão e de ordenarem o fecho de mesquitas. Todavia, tal como a Operação Resgate demonstrou, essas queixas são infundadas já que a destruição de algumas mesquitas aconteceu por terem sido construídas em lugares impróprios, ou porque não tinham autorização ou porque não cumpriam a lei. Num anterior artigo meu os líderes da extrema-direita lusitana endeusaram Lourenço por nas suas pobres cabeças entenderem tal não como uma questão legal mas sim como uma medida estruturada e claramente anti-islâmica.
Os evangélicos também têm enfrentado muitas dificuldades, mas mesmo assim em Luanda e em Cabinda, estas comunidades crescem como cogumelos e os templos religiosos multiplicam-se como coelhos, e, arrisco-me a dizer, têm como primeiro objectivo, quiçá único de facto, não sagrar o sacro senhor Jesus mas sim sacar todo o sumo dos suculentos Kwanzas que os crédulos crentes inadvertidamente levem na algibeira. Crentes muitas vezes desesperados pois Angola não assegura de forma minimamente digna o bem estar dos seus cidadãos que dessa forma se vêm aviados para o álcool, droga, marginalidade e falsas fezes.
Meu caro leitor. Posto tudo isto e admitindo então que a religião católica é de certa forma uma religião de estado ou pelo menos é contemplada com algum favoritismo neste Quadrado da África Austral, tentemos perceber e analisar o seu actual momento que de convulsão em convulsão, de escândalo em escândalo e de crise em crise, poderá passar de momento a movimento irreversível de destruição e no princípio do fim de uma morte há muito e por muitos anunciada e abalar de tal forma os alicerces seculares (no sentido de antiguidade e não de laicidade como é óbvio) do seu edifício conceptual e formal que estejamos perante um cisma final e catalítico do Apocalipse por muitos temido e que iria abalar os precários equilíbrios planetários do mundo civilizado tamanha é a autoridade e referência da Sacra Instituição Apostólica Romana, mesmo para com outras confissões religiosas sejam essas cristãs ou não, como se viu na recente viagem de Francisco às Arábias onde foi brindado com um beijo na boca da maior autoridade sunita do mundo.
Eu não sei se há pedofilia na Igreja Católica angolana. As minhas fontes disseram-me que não têm conhecimento de tal. Outras fontes disseram-me que não é fácil a vida das religiosas ante o assédio permanente dos religiosos masculinos mas carece de confirmação. Mas sei que até há bem pouco tempo também não havia na igreja portuguesa… não havia mas já há e não são “só dez casitos” como disse um porta-voz do clero lusitano tentando desvalorizá-los por comparação com outros países.
Mas sei de uma coisa -ainda que não suportada em dados científicos- e de alguma maneira corroborada subrepticiamente pelo clemente, ilustre e bondoso cardeal Manuel Clemente ”AKA” D. Manuel III, que justamente numa espécie de concílio planetário de urgência subordinado ao tema da pedofilia na Igreja referiu que cerca de 80% dos Bispos e religiosos africanos tinham vidas duplas o que em última análise, na minha opinião, lhes permitem desenvolver não só a sua sexualidade mas também consubstanciar um desígnio psico-biológico essencial que mais não é do que a perpetuação dos seus genes o que obrigaria a construções ainda que não muito formais de algo vagamente similar a uma família ainda que em moldes heterodoxos.
Sei que há estudos encomendados por sectores da igreja -mais papistas do que o Papa- que tendem a não demonstrar relação entre o celibato e a degeneração da sexualidade dos ministros católicos mas depois da entrevista que vi na SIC TV portuguesa que passa em Angola) na segunda-feira de um educador marista, não tenho dúvidas absolutamente algumas, de que a confusão mental e sexual da Igreja tem a ver com o celibato e com séculos a fio de práticas institucionalizadas nas múltiplas organizações e estruturas dependentes de Roma que a pretexto desse mesmo celibato se refugiaram nas mais abjectas e doentias condutas e rituais sexuais dos quais crianças inocentes são as maiores vitimas e mais tarde algozes e carrascos, num ciclo a todos os títulos vicioso e viciante infindo.
Aqui há uns anos li um livro cujo enredo decorria em Boston (verdadeiramente a Sodomoa e Gomorra bíblicas) onde a pederastia era endémica e onde havia uma espécie de Omerta(código de silêncio dos mafiosos) que só foi quebrada quando um jornalista forasteiro resolveu investigar, ainda que ao de leve, e assim desatou o fio à meada desfazendo o nó górdio e destruiu uma Instituição que afinal tinha os pés de barro, ao ponto das dioceses, arquidioceses, ciprestados e paróquias acabarem por se ver enterradas em imbróglios jurídicos de tal dimensão -o que num país como os USA para o bem ou para o mal é um golpe fatal- ao ponto dessas organizações de vários níveis terem de vender tudo para pagar indemnizações às vítimas… legitimas ou oportunistas.
O mais curioso, quer no livro de que falei em que um padre pedófilo relatava ao jornalista com toda a naturalidade as sevícias que infligia às crianças não achando que tivesse feito algo de errado, quer nas declarações do pedagogo marista que porque apenas tocava nos genitais -bimestralmente- das crianças enquanto se masturbava, não fazendo nada mais grave, como amiúde ressalvava, o mais curioso dizia, é que estes membros da Igreja vivem num mundo perfeitamente fantasioso, que nem Lewis Carroll poderia imaginar, cheio da poeira que o Vaticano vem acumulando nestes quase dois milénios. Não há dúvida que esta gente levou o aforismo de Jesus -de que deixassem vir a ele as criancinhas porque seria delas o reino do Céu- demasiado longe ao ponto da conjugação do verbo vir ter associada nos seus casos um pronome reflexo e o Céu ter mais o significado do pronome homófono -se me faço entender e se me permitem deambular e vernaculizar, usando desta forma a linguagem baixa que nas catacumbas e corredores sombrios da Igreja os “Homens de Saia” usam.
A Igreja Romana em tempos, sobretudo na Idade da trevas, tinha um poder imenso, também pelos seus membros saberem ler e escrever e é verdade que muito devemos aos incansáveis copistas e iluministas no avanço das ciências e no renascimento e reflorescimento do saber clássico grego-romano mas também árabe. Mas pelos vistos as capacidades que a leitura e a escrita proporcionavam aos padres e monges dotavam-nos igualmente de aptidões superiores na arte de seduzir mulheres e sodomitas passivos que nem os labregos do povo, nem os esfaimados trovadores, nem os brutos da nobreza, nem os enfadonhos artesãos e nem os obstinados burgueses sequer imaginavam.
Há quem diga que a instituição do celibato foi uma tentativa da Santa Madre Igreja de travar as incursões “donjuaninas” do clero se bem que às vezes parece que alguém pensou que para credibilizar uma religião teria de se criar um regulamento de tal forma inextrincável e complexo que regras e mais regras, dada uma mais radical que a outra, foram sendo produzidas arbitrariamente tal como não comer carne na Quaresma; usar indumentária garrida; praticar o celibato; submeter os bebés a afogamentos na pia baptismal; expiar pecados através de simples confissões e por aí adiante.
É óbvio que essa tendência de por regras é comum a outras confissões e em relação aos alimentos e jejuns outras religiões abraâmicas são mais severas e porventura mais saudáveis à luz do que as Ciências da Nutrição enunciam actualmente.
Mas caro leitor vou-vos dar um exemplo paradoxal e um contra-senso absoluto de uma crença religiosa pujante no Brasil, Portugal e Angola e que tem consequências tão graves quanto o celibato tem no catolicismo. A IURD, que mais não é do que uma rede criminosa com vários interesses em diversos domínios e que travestindo-se de religião quis dar um exemplo de originalidade e altruísmo e dessa forma decidiu instituir o princípio de que os seus Bispos teriam de fazer uma vasectomia e não poderiam ter filhos biológicos”.
A consequência é que o tráfico de crianças e adopções ilegais e imorais cresceu exponencialmente entre os seus membros. O meu amigo leitor certamente sabe que existe esta correlação e considera esta regra da IURD absurda. Tal como considerará absurda a “hemofobia” das Testemunhas de Jeová que se lembraram de instituir tabus em tudo o que tenha a ver com o Sangue de Jesus, seja comer uma cabidela, tocar em mulheres menstruadas ou fazer transfusões sanguíneas.
Por isso desafio-o a fazer o mesmo exercício em relação ao celibato e à pedofilia eclesiástica… Assustador?
O neuro-cientista português António Damásio no seu mais recente livro fala da homeostasia como a verdadeira força motriz que regula os seres vivos e no nosso caso os seres humanos. O livro é brilhante e a sua original teoria é um caso de “Eureka” e confesso amigo leitor que eu na minha prática médica quer nas vertentes física, psicológica, imunitária e social socorro-me sempre dos princípios da homeostasia para melhor compreender os meus doentes e as suas doenças. Também a uso em todos os outros domínios, mesmo os comportamentais e sociais, sobretudo quando estudo as minhas cadelas.
Os testículos de um homem são uma glândula que produz testosterona apesar de também produzirem esperma, e, qualquer leigo compreende que se o esperma não for drenado os mecanismos de homeostasia ficarão comprometidos e o homem perderá o seu livre-arbítrio pois o cérebro inundado de hormonas tenderá a comportar-se de forma diferente da que seria desejável acabando por determinar que a psique de um indivíduo -que já foi previamente formatada pelo comportamento e educação perversos- force-o a tomar decisões que não serão de todo as mais correctas nem as que esses próprios indivíduos consideram aceitáveis depois de consumados os actos pedófilos.
Esta questão da homeostasia e do livre-arbítrio é tão determinante que ninguém pode achar que uma criatura sem comer há 4 dias ou beber há 48 horas se comportes normalmente face à comida e bebida e que teria em circunstâncias em que esses jejuns não fossem tão grandes reacções completamente diferentes. Nestes casos, facilmente, qualquer um de nós beberia urina própria ou alheia e lambuzaria a boca depois de degustar um sapo assado recheado de carne de marimbondos… desde que com os temperos certos e bem estaladiço e suculento.
Após o declínio da civilização grega e no apogeu da romana era comum as famílias nobres contratarem preceptores helénicos para educar a prole, sobretudo para lhes ensinarem filosofia. Aqui há tempos li uma biografia da mulher de Pôncio Pilatos onde a dada altura, na sua casa em Jerusalém, foi acordada de manhã cedo pelos gritos estridentes dos guardas romanos que faziam um barulho altissonante enquanto se riam alarvemente e agrediam um vetusto grego apanhado (não de calças na mão mas de túnica para cima segura com os dentes supõe-se) a masturbar-se no pátio. A uma ordem da biografada os pândegos foram mandados embora pois esta sabia que o sábio e velho grego era um filósofo da escola Cínica ou Canina (palavra de que deriva) e que basicamente tentavam levar uma vida o mais frugal e livre possível e que por isso -e para não sucumbirem a desejos carnais- parte das suas abluções e higiene matinais passavam pela masturbação, hidratação e ingestão dos alimentos simples e digestos mas necessários para o fornecimento de energia para o bom desempenho quotidiano das suas obrigações. Cumpridas estas premissas poderiam dedicar-se livremente à filosofia e ao ensino de crianças. Sem distracções.
Por falar em filósofos e em Grécia, até os gregos, para os quais a pederastia entre mestre e aluno era normal e amiúde solicitada pelos pais só era permitida a partir dos, creio, 12 anos e em situações bem regulamentadas e consensuais pois de outra forma um chazinho de cicuta era inevitável tal como aconteceu a Sócrates por corromper jovens se bem que neste caso a corrupção não fosse propriamente sexual mas sim intelectual. Adiante.
Quando era criança chegou-me às mãos um livro do escritor católico japonês e verdadeiro génio incontornável da literatura mundial de sua graça Shusaku Endo, que relatava a forma como os jesuítas portugueses na sua missão de evangelização do oriente pediam uns aos outros que atassem as mãos antes de se deitarem para não sucumbirem à tentação do onanismo durante o sono. De qualquer forma haveria sempre pelo menos um jesuíta que não teria quem lhe atasse as mãos. Provavelmente não dormiria, suponho. Este caso demonstra uma forma celibatária extrema tão típica desta ordem religiosa que muito admiro e à qual por acaso pertence o Papa Francisco.
Para terminar meu caro leitor caso tenha tido a paciência de me ler e compreender, a conclusão é inevitável. Uma regra arbitrária e nada saudável e cientificamente bastante questionável como o celibato, por um lado, sem dúvida que está envolta em sentimentos bons e puros e é meritória e sinal belo de entrega a Deus e de auto-sacrifício pela abdicação do prazer carnal e demonstra uma admirável dedicação total ao Senhor. No entanto acabou por redundar em equívocos que causaram tanto sofrimento a centenas de milhares de crianças que por sua vez -e aqui já há estudos- levou a que as vítimas de pederastia elas próprias se transformassem em pederastas e que seguiram o caminho religioso pois a melhor forma de exercer esta parafilia sexual impunemente é ingressar no farto seio da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.
E falados que são os casos dos abusos a crianças quando é que se começa a discutir a situação das pobres religiosas igualmente vítimas dos instintos libidinosos dos padres e frades católicos? Só que neste caso as autoridades eclesiásticas angolanas teriam muito para contar pois há esqueletos nos armários que terão que ver a luz do dia mais tarde ou mais cedo.
Um ensaio brilhante a por a nu toda a fragilidade da igreja e das religiões.
Um artigo muito interessante apesar de longo e complexo que retrata em retrospectiva aquilo que são todas as religiões. Mais uma vez o Folha 8 está de parabéns.
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